Author(s):
Fernandes, Ananda Maria
; batalha, luis manuel da cunha
; campos, diana catarina ferreira de
; gonçalves, ana maria pacheco mendes perdigão da costa
Date: 2014
Origin: Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Subject(s): dor; criança; adolescente; cancro;
Description
Introdução. As crianças com cancro têm dor quer pela doença quer pelos tratamentos ou procedimentos. A dor tem sido apontada como um dos sintomas mais prevalentes e debilitantes. Apesar de conhecido o impacto negativo da dor, tem sido realizada pouca investigação sobre as experiências de dor em crianças com cancro.
Objectivo. Identificar a presença, intensidade, localização e qualidade da dor em crianças portuguesas com cancro.
Metodologia. Estudo descritivo longitudinal incidindo numa amostra consecutiva de 36 crianças dos 8 aos 17 anos hospitalizadas, com cancro. A dor foi avaliada durante quatro dias consecutivos através do Adolescent Pediatric Pain Tool (APPT) - versão PT. O APPT é um instrumento composto por um diagrama corporal para marcação dos locais de dor, uma escala gráfica de descritores verbais (0-10) para avaliação da intensidade e uma lista de 67 descritores sensoriais, afectivos, avaliativos e temporais para avaliação da qualidade da dor.
Resultados. Participaram 24 rapazes e 12 raparigas (média=12.94±3.06 anos) com diversas patologias oncológicas. No total, foram avaliados 136 dias de hospitalização em 69 dos quais se foi reportada a presença de dor. Os resultados mostram que ¾ da amostra teve dor pelo menos uma vez ao longo dos quatro momentos de avaliação e que 38.8% teve dor em todas as avaliações reportadas. A intensidade da dor foi de 3.7±1.79, variando de [0.1-10]. A intensidade de dor mais elevada foi registada no segundo momento de avaliação. As crianças tiveram dor em, aproximadamente, 3/43 locais distintos ([1-16]). Os locais de dor mais frequentemente reportados são o abdómen, os membros e a cabeça. Escolheram, em média, 10.67±5.71 descritores de dor ([1-27]). Os descritores mais frequentemente escolhidos foram desconfortável, aborrecida e muito desagradável. Entre os 10 descritores mais escolhidos estão contempladas as quatro dimensões da qualidade da dor. Verificou-se uma relação positiva e significativa entre intensidade, localização e qualidade da dor (r= 0.530-0.785, p<0.01).
Conclusões. A dor é uma experiência frequente nas crianças portuguesas com cancro no decurso da hospitalização. Mais de metade das crianças tem dor pelo menos uma vez durante a hospitalização. A intensidade da dor regista valores inferiores aos de outros estudos. A localização da dor e os descritores de dor seguem o padrão reportado internacionalmente. Existe congruência entre a intensidade reportada e os descritores de dor escolhidos para caracterização da dor. Os resultados apontam para a necessidade de uma avaliação multidimensional da dor assim como para a melhoria das técnicas de prevenção e tratamento da dor.