Autor(es):
Loureiro, Helena Maria Almeida Macedo
Data: 2013
Origem: Repositório Científico da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Assunto(s): Genero; idade ativa; aposentação;
Descrição
Desigualdade de género na idade ativa e na reforma
Autores: Loureiro, Helena
Introdução
Em Portugal, a feminização laboral resultou da escassez de mão-de-obra masculina (motivada pela guerra colonial e emigração anos 60), do aumento do custo de vida exponenciado pelo consumismo e consequente necessidade de reforço do rendimento familiar, do incremento de escolaridade das mulheres e do desenvolvimento do sector terciário (Carmo et al, 2010). Na geração que atualmente se aposenta a desigualdade de género permanece vigente em termos laborais, familiares e sociais (Loureiro, 2011), contudo esta conjuntura parece não desfavorecer totalmente a saúde das mulheres.
Objetivos
Geral:
• Divulgar resultados de uma investigação que estudou a transição para a reforma e a desigualdade de género nesta fase observada.
Específicos:
• Caracterizar a desigualdade de género vivenciada em idade ativa, na geração recém-aposentada;
• Descrever as dificuldades que a geração recém-aposentada perceciona na transição para a reforma, em função do género;
• Apresentar as estratégias que a geração recém-aposentada adota no sentido de ultrapassar as dificuldades, em função do género.
Metodologia
Estudo quantitativo, de carácter descritivo-correlacional, no qual foi estudada uma amostra de 432 indivíduos que se encontravam aposentados há menos de cinco anos. A seleção foi conseguida pelo método "bola de neve" e os dados obtidos, por meio da aplicação de um questionário administrado por autorrelato escrito, permitiram aceder a informação relativa ao período de exercício profissional, ao momento da aposentação e às dificuldades percecionadas e estratégias utilizadas, para fazer face. Os dados foram analisados com recurso ao programa IBM SPSS17 e à técnica de análise de conteúdo de Bardin.
Resultados
Proveniente de vários distritos de Portugal, a amostra estudada presentou idades compreendidas entre os 44 e os 72 anos ( =60,5anos;DP=5,48). O género masculino fez-se representar em ligeira superioridade [masculino (56,9%);feminino (43,1%)] e com uma média de idade igualmente superior [masculino( =60,7anos;DP=5,42);feminino( =60,4anos;DP=5,54)]. Eram maioritariamente casados/união de facto (92,6%) e assumiam um NSE médio (46,1%). O género feminino revelou ser detentor de uma maior frequência escolar mas, em oposição, o masculino ocupava cargos mais diferenciados, em idade ativa.
Quando aposentados, os homens percecionaram maiores dificuldades na transição do que as mulheres, estando estas relacionadas com a "Alteração das rotinas diárias" (55,6%), "Dificuldade em ocupar o tempo" (55,0%) e "Isolamento" (45,0%). A "Diminuição do poder económico" foi a principal dificuldade percecionada pelas mulheres (68,4%).
A procura de "apoio na família" foi a principal estratégia adotada para fazer face às dificuldades percecionadas (71,5%). Nos homens, outras estratégias passaram pela maior procura de "ocupação dos tempos livres" e nas mulheres, pela "ocupação com a lida da casa".
Conclusões
A desigualdade de género permanece contemporânea, na idade ativa. Dois achados permitiram efetuar esta afirmação. O primeiro relacionado com o facto de as mulheres revelarem um maior nível de literacia e, ainda assim, os homens se aposentarem de cargos mais diferenciados, com maiores pensões de reforma. O segundo relacionado com o facto de as mulheres continuarem a ser "sobrecarregadas", vendo o seu trabalho fora de casa acrescido com aquele que as espera dentro da mesma. Esta última desvantagem revelou-se protetora da saúde na aposentação, uma vez que lhes permitiu manter continuidade de objetivos de vida, que na sua ausência suscitou vulnerabilidade masculina.
Palavras-chave
Género, Desigualdade, Envelhecimento, Reforma, Saúde
Referências bibliográficas
• LOUREIRO, Helena (2011). Cuidar na "Entrada na Reforma": uma intervenção conducente à promoção da saúde de indivíduos e de famílias. Tese de Doutoramento em Ciências da Saúde. Repositório institucional da Universidade de Aveiro. Disponível em WWW: URL:http://ria.ua.pt/bitstream/10773/4159/1/tese.pdf
• TORRES, A. et al (2005). Homens e mulheres entre família e trabalho. Comissão para a igualdade no trabalho e no emprego. Estudos n.º 10. 2ª ed. Lisboa: DGEEP.CID, 2005. ISBN 972-704-237-6.
• CARMO, R. et al (2011). Desigualdades em Portugal: Problemas e Propostas, Edições 70, Lisboa.