Descrição
A biópsia renal constitui um instrumento fundamental para o diagnóstico e prognóstico
de diversas patologias nefrológicas e sistémicas. No nosso Hospital a sua realização
iniciou-se em 1994, tendo sido biopsado um doente com Doença de Berger.
Até à data foram efectuadas 91 biópsias renais percutâneas com a seguinte distribuição
anual: 1994 (n=3), 1995 (n=3), 1996 (n=3), 1997 (n=15), 1998 (n=5), 1999 (n=23), 2000
(n=13), 2001 (n=26) em 57 homens e 34 mulheres.
Foi utilizada orientação ecográfica e na maioria dos casos a agulha de Vim Silverman
(14G). Apenas em cinco casos se utilizou uma pistola automática BARD. Era nosso
objectivo, em cada biópsia, a colheita de pelo menos dois fragmentos, um para microscopia
óptica e outro para imunoflurescência.
Os grandes síndromas nefrológicos que conduziram a este exame foram: síndroma
nefrótico (n=27), anormalidades urinárias assintomáticas (n=25), insuficiência renal aguda
ou rápidamente progressiva (n=18), insuficiência renal crónica (n=15), hipertensão arterial
(n=4) e glomerulonefrite aguda (n=2).
Em 92.3% (84/91) dos casos foi possível efectuar um diagnóstico histológico por
microscopia óptica. Se considerarmos, no entanto, sete casos com suspeita clínica de
nefropatia IgA em que o fragmento colhido para imunoflurescência não continha
glomérulos, a eficácia diminuiu para 84.6% (77/91). O número médio de glomérulos por
amostra foi de 18.3 ± 14.2 [0-80].
Os diagnósticos histológico obtidos foram os seguintes: doença de Berger (n=24),
diversas formas de síndroma nefrótico primário (n=18), nefrite lúpica (n=8),
glomerulonefrite mesangioproliferativa, sem glomérulos na imunoflurescência (n=6),
ausência de tecido renal ou de glomérulos nas amostras (n=6), síndroma nefrótico
secundário (n=4), nefrite túbulo-intersticial ou necrose tubular aguda (n=4), nefropatia
diabética (n=3), rim de mieloma (n=3), glomerulonefrite crescêntica sem depósitos imunes
(n=3), nefroangiosclerose hipertensiva (n=2), glomerulonefrite mesangioproliferativa
IgM (n=2) e outros (n=8).
A hematúria macroscópica revelou-se como a complicação mais frequente (n=9; 9.9%).
Apenas em três casos se verificou a existência de hematoma renal ecograficamente
(3.3%). A saída de sangue pelo mandril da agulha de biópsia surgiu em quatro casos
(4.4%) e foi necessário proceder à transfusão de concentrado de glóbulos rubros em
três doentes (3.3%). Registamos uma punção acidental de baço. Em nenhum caso foi
necessário efectuar nefrectomia por hemorragia incontrolável.
Identificamos, como índices de mau prognóstico relativamente à evolução para
insuficiência renal crónica avançada (n=2) ou terminal (n=15), o maior número de
glomérulos esclerosados (30% vs 8%; p<0.01) e de lesões túbulo-intersticiais (100% vs
63%; p<0.01).
Em conclusão, a biópsia renal efectuada com orientação ecográfica permitiu a obtenção
21
de amostras com valor diagnóstico em 84.6% dos casos. A taxa de complicações foi
relativamente baixa comparando com outras séries. Verificamos um progressivo aumento
de qualidade das amostras renais colhidas, em relação directa com uma coordenação
técnica crescente entre os nefrologistas e radiologistas intervenientes.nephrological and systemic pathologies. At our institution the first patient submitted to
this technique, at 1994, showed Berger disease.
Until 2002 we have performed 91 renal biopsies (57 men and 34 women) with the following
annual distribution: 1994 (n=3), 1995 (n=3), 1996 (n=3), 1997 (n=15), 1998 (n=5), 1999
(n=23), 2000 (n=13) and 2001 (n=26).
Ultrasound guidance was always used and in most of cases the technique was performed
with Vim-Silverman (14G) needle. BARD automatic system was employed in only five
patients.
The clinical diagnosis that lead to renal biopsy were: nephrotic syndrome (n=27),
asyntomatic urinary abnormalities (n=25), acute or rapidly progressive renal failure (n=18),
chronic renal failure (n=15), hypertension (n=4) and acute nephritis (n=2).
The efficacy for optic histological diagnosis was 92.3% (84/91). However, if we include
seven cases of presumed IgA nephropathy that don’t included fragment for
immunofluorescence (IF) analysis the efficacy declined to 84.6% (77/91). The mean
number of glomeruli per fragment was 18.3 ± 14.2 [0-80].
Histological diagnosis were the following: Berger disease (n=24), idiopathic nephrotic
syndrome (n=18), lupus nephritis (n=8), mesangial proliferative glomerulonephritis
without glomeruli in the IF fragment (n=6), without glomeruli (n=6), secondary nephrotic
syndrome (n=4), tubulointerstitial nephritis or acute tubular necrosis (n=4), diabetic
nephropathy (n=3), myeloma kidney (n=3), pauci-imune and crescentic
glomerulonephritis (n=3), hypertensive nephropathy (n=2), IgM mesangial proliferative
glomerulonephritis (n=2) and various (n=8).
Gross hematuria appeared in 9 patients (9.9%). Only in three of these patients it was
showed, by ecography, the existence of kidney haematoma. Bleeding throughout the
mandrill in four cases, leaded to transfusion in only three patients. We have registered
one accidental spleen puncture. Nephrectomy for incontrollable bleeding was never
needed.
Higher glomerulosclerosis (30% vs 8%; p<0.01) and also a greater extent of
tubulointersticial lesions (100% vs 63%; p<0.01), were predictors of progression into
end-stage or advanced renal failure.
Concluding, renal biopsy with ultrasound guidance was valuable for diagnosis in 84.6%
of our proceedings. Our serie is similar to others concerning serious complications.
Nephrologists and radiologists improved progressively their coordination performing
this technique, improving the results during this period of 8 years.