Autor(es):
Rui Jorge Garcia Ramos
Data: 2011
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10216/62526
Origem: Repositório Aberto da Universidade do Porto
Assunto(s): Ciências Tecnológicas; Arquitectura, Humanidades; Artes
Descrição
A arquitetura na passagem do século XIX para o século XX, difundida nas Américas e na Europa, de Nova Iorque a Santiago do Chile, de Paris a Istambul, é marcada pelo internacionalismo e vontade de progresso.
No final do século XIX Marques da Silva (1869-1947) concluía, em Paris, a formação de arquiteto na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts, onde se distingue a frequência do atelier Vítor Laloux (1850-1937). Ao ensino canónico beauxartiano juntava-se o contacto com uma prática projetual inovadora que, simultaneamente, revia as metodologias de conceção; incorporava novas técnicas perante as exigências construtivas de espaços com grande dimensão; detalhava programas funcionais para o uso massificado; e, sobretudo, partilhava com os engenheiros uma nova perspetiva multidisciplinar do projeto arquitetónico. Paris, cidade cosmopolita e referência da modernidade, afirmava-se como centro mundial desta nova arquitetura....
No regresso da sua estadia em Paris, em 1896, desde logo se dedica a projetos significativos como a Estação de São Bento (1896-1911), trabalhando de motu próprio até 1899; ou, o bairro operário de "O Comércio do Porto" (1899) onde enfrenta o grave problema do alojamento popular na cidade, tema central da arquitetura do século XX.
A proposta para a Estação de São Bento demonstra bem a convicção presente no início da sua atividade como arquiteto. Por um lado, este projeto traduz os desafios técnicos colocados pela circulação dos comboios, do grande número de passageiros transportados e das telecomunicações onde, esquisso após esquisso, a negociação entre monumentalidade e funcionalidade acaba por relegar para segundo plano, a ideia inicial, da fachada principal com uma estrutura metálica e vidro. Por outro lado, o desenrolar do projeto mostra a convicção no progresso, bem traduzido na indispensabilidade desta obra que leva à inevitável conclusão da demolição do Convento de São Bento de Avé Maria e da sua Igreja, para a requalificação do centro comercial de acordo com os novos tempos.
Estava lançada a pedra para outra imagem do Porto que leva, atualmente, à leitura de outro Marques da Silva, implicando repensar a história e a modernidade.