Autor(es):
Sarmento, Clara
Data: 2009
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10400.22/660
Origem: Repositório Científico do Instituto Politécnico do Porto
Assunto(s): Ásia; Império; Século XIX; Género; Viagem
Descrição
Numa primeira abordagem a A Lady’s Visit to Manilla and Japan (1863), de Anna
D’Almeida, os leitores não deverão esperar a narrativa de uma experiência que poderia ter
sido produzida por um desses “Etonnants voyageurs! Quelles nobles histoires / Nous lisons
dans vos yeux profonds comme les mers!”, citando o último poema de Les Fleurs du Mal de
Baudelaire. Nem tão pouco deverão esperar o relato superficial de uma turista indolente
sobre a diversão convencional ou o previsível choque moral experimentados durante as
várias etapas do seu grand tour, e que são característicos deste tipo de literatura,
particularmente popular no campo emergente do turismo do final do século XIX. Este artigo
defende uma leitura plural, conciliando noções aparentemente divergentes. Analisa a escrita
feminina ocidental no contexto dos encontros culturais, mais precisamente, as peculiares
imagens que uma viajante ocidental do século XIX cria a partir da sua breve exposição a
vários espaços e práticas da Ásia.
A familia D’Almeida viajou pelo Extremo Oriente entre Março e Julho de 1862. O
título A Lady's Visit to Manilla and Japan induz em erro, pois a narrativa começa em
Singapura e termina em Hong Kong, mas a família visitou também Macau, Xangai,
Nagasaki, Yokohama, Xiamen (Hokkien) e Cantão, entre outros lugares, atestando assim o
profundo desejo dos D’Almeida de explorar in loco todas as potencialidades dos países
visitados.
Neste estudo de A Lady's Visit to Manilla and Japan, tenciono demonstrar as
complexidades que existem dentro de / entre as histórias, experiências e actividades
interculturais de mulheres, e como estas alargam o âmbito do estudo dos sistemas sociais e
culturais. Ao examinar as diferenças e semelhanças de género, podemos elaborar
construções teóricas que analisam as variações entre mulheres; como elas são influenciadas
pela classe, raça, etnia e religião; e como estas moldam a forma como entendemos a posição
da mulher na cultura e na sociedade. O preconceito de classe da elite ocidental considera a
mulher não-ocidental como sendo ‘a outra’, alguém que representa aquilo que o escritor
ocasional não é. A questão da representação feminina das suas congéneres como ‘mulheresoutras’,
com base numa ampla variedade de diferenças, é definitivamente um desafio para
os estudos interculturais e de género.