Author(s):
Fernandes, Maria Gisélia Silva
Date: 2006
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10437/2816
Origin: ReCiL - Repositório Científico Lusófona
Subject(s): EDUCAÇÃO; ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS; BRASIL; EDUCATION; PRISONS; BRAZIL
Description
Este estudo tem por objetivo desvelar as significações construídas pelos alfabetizandos
presidiários sobre suas experiências educacionais, na situação do cárcere. Considerando os
objetivos que perseguimos e os aportes teóricos metodológicos que fundamentam o trabalho,
passamos a situar as trilhas da nossa pesquisa no contexto de um presídio, dando voz aos detentos, cujos discursos tradicionalmente são reduzidos a patologias ou desvios. Nesta
direção, recorremos à abordagem qualitativa de pesquisa. Nossa escolha metodológica para o
trabalho investigativo utilizará a teoria que é também método das Representações Sociais, que
são marcados pela especificidade de “dar lugar ao pensamento do Outro” na pesquisa. As histórias de vida nos auxiliarão a municiar nosso olhar e, por meio delas e de outras formas narrativas - como as análises de rituais e dos cenários que compõem o cotidiano carcerário -,
as representações sociais serão ordenadas de modo à “fazerem falar o silêncio” das vozes
amordaçadas dos presos da Penitenciaria Modelo Desembargador Flóscolo da Nóbrega, em
João Pessoa-(PB). Utilizamos três meios para coletar os dados: registros no diário de campo,
observações participantes, entrevistas semi-estruturadas com os selecionados individualmente
e em grupos. Para o tratamento dos dados coletados, utilizamos a escolha de cenários do cotidiano carcerário - o que pôde nos auxiliar a dar forma concreta às escolhas teóricas e
metodológicas do processo de investigação. A luz de Moscovici, as representações sociais é uma maneira particular de conhecimento presente no senso comum, tendo como função a orientação para a ação no cotidiano; ao mesmo tempo em que essa forma de conhecimento é
diretriz na interação entre os indivíduos. No espaço carcerário, procuramos compreender as
representações dos presidiários, movendo-nos junto a silêncios, gestos, olhares, gritos,
palavras e agressões. Neste lugar concreto, escutando os encarcerados tecerem suas vozes
sobre o vivido, procuramos entender as suas significações. Essa escuta se fez a partir de tempos, lugares e cenas específicas, que davam circunstancialidade ao dito e se expressavam
como rituais: plenos de material instituído e de material instituinte. Também, as significações
em teias nos puderam mostrar como, nas situações vividas no cárcere pelos detentos, o sujeito que cometeu um delito passa a viver um percurso que vai legitimar a construção do sujeito delinqüente. A dimensão da transcendência apareceu como lugar único onde as significações
dadas ao percurso vivido no cárcere, em sua ânsia de sentido, tocam explicações de totalidade que devolvem a inteireza humana, mas não empanam a percepção do que ali se vivencia como
brutal e objeto. A reificação vivida no cárcere, essa coisificação ou negação dos detentos
como sujeitos históricos, humanos, transcendentes, apontou a necessidade de uma práxis outra que se aperceba dos “lugares, tempos e as cenas do cárcere” como espaços educacionais,
na intenção de ultrapassar-se a alienação das possibilidades do sujeito encarcerado; mostrar
como essa urdidura acontece, do ponto de vista dos encarcerados, foi tecer a malha dos rituais do cotidiano, eivados de reprodução e resistência, junto aos subterrâneos de uma memória em
disputa, de uma imagética violada na sua esperança de dignidade. Orientadora : Ângela Maria Bessa Linhares ; Co-orientador : António Teodoro