Autor(es):
Mota, Nelson Jorge Amorim
Data: 2006
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/3741
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Habitação, Porto, séc. 19
Descrição
Este trabalho procura retratar um momento no processo de transformação do espaço doméstico, a
partir da forma como se estrutura nesse lugar a dialéctica entre privado e público. O instante escolhido,
o final do século XIX, situa-se num período balizado por duas referências essenciais: num limite está
Paris durante a Monarquia de Julho, quando a burguesia, segundo Walter Benjamin, transforma o
espaço doméstico num camarote no teatro do mundo, construindo na sua casa uma realidade
idealizada para si e para a sua família. No outro limite está o modernismo, apresentado por Beatriz
Colomina como o momento em que se quebram as tradicionais fronteiras entre interior e exterior,
entre privado e público.
O lugar escolhido para esta investigação, o Porto, é uma cidade burguesa de média dimensão na
periferia da Europa mas contaminada por dinâmicas de relação que transportam para o seu espaço as
características que vigoram nessa época.
O suporte utilizado foi a recolha de todos os processos de licenciamento que deram entrada na
Câmara Municipal do Porto entre os anos de 1897 e 1900. Cruzando essa recolha com informação
complementar, elaborou-se uma inventariação que permitiu caracterizar cada caso com dados de
natureza diversa, relativos ao edifício, ao requerente, à sua família, ao autor do projecto e até ao
construtor da obra.
O enquadramento e o tratamento da informação é antecedido por estudos de contextualização que
permitem compreender o fenómeno de evolução do espaço doméstico burguês, o Porto e a sua
burguesia no século XIX e também as transformações na habitação burguesa do Porto.
A partir da identificação de categorias representativas de casos com características semelhantes
de relação com o lote e com o espaço público, desenvolve-se uma metodologia de investigação de
diversos parâmetros associados à vivência quotidiana no âmbito do espaço doméstico. A abordagem
incide com particular interesse na relação entre a maneira como são negociadas as fronteiras entre o
privado e o público. Para o esclarecimento destes domínios são explorados âmbitos que cruzam a
caracterização espacial dos edifícios, a sociologia da família e a sociologia do quotidiano.
Os resultados deste estudo permitem esclarecer que o espaço doméstico da burguesia portuense
no final do século XIX se encontra num domínio híbrido, onde se habita e se trabalha, onde coexistem
a família e os criados, onde privado e público se contaminam. Tese de Mestrado em Arquitectura