Autor(es):
Valentim, Ana do Rosário Caleiro
Data: 2009
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/15195
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Anestesia epidural -- efeitos adversos; Morfina -- uso terapêutico; Dor pós-operatória; Cesariana
Descrição
O tratamento da dor pós-cesariana é essencial para a recuperação precoce e a longo prazo da puérpera. No entanto, coloca desafios adicionais aos médicos, porque existem diferenças entre a população obstétrica e a população cirúrgica geral, especificamente por causa dos receios da exposição do recém-nascido aos analgésicos administrados à mãe, além de que é
desejável uma autonomia precoce e mobilização da puérpera para poder cuidar do recém-nascido.
A dor é um processo complexo, em que, provavelmente, a interacção de
múltiplos genes, cada um com um papel individual diminuto, juntamente com a
acção de factores ambientais, influencia a eficácia clínica dos opióides, mais do
que um gene isolado. Polimorfismos nos genes que codificam o receptor μ e a
catecol-o-metiltransferase podem ser importantes moduladores da eficácia dos
opióides. Os opióides são os fármacos mais utilizados para o tratamento da dor
pós-cesariana por via sistémica ou neuro-axial. O prurido é o efeito secundário
mais frequente decorrente da administração da morfina por via neuro-axial em obstetrícia. Pensa-se que esta vulnerabilidade pode ser causada por uma ligação alterada dos opióides a locais do receptor opióide por competição com os estrogéneos. O mecanismo subjacente ao aparecimento do prurido, após administração de opióides por via neuro-axial, não está completamente esclarecido.
No presente trabalho, foi realizado um estudo de associação entre os
polimorfismos 118A>G, do gene OPRM1, que codifica o receptor μ, e o
polimorfismo val158met do gene COMT, que codifica a catecol-ometiltransferase,
e o efeito secundário prurido, em mulheres nas quais tinha sido administrada morfina por via epidural para o tratamento da dor póscesariana.
Após aprovação pela comissão de ética, quarenta mulheres submetidas a
cesariana sob anestesia regional receberam 2,5 mg de morfina por via epidural, para o tratamento da dor. No pós-operatório, além do efeito secundário prurido foram analisados outros, como náuseas e vómitos, tendo sido também avaliados os scores de dor, a sedação e a depressão respiratória. No estudo efectuado a incidência de prurido foi de 67,5%.
No presente trabalho, a análise genética dos polimorfismos 118A>G do gene OPRM1 e val150met do gene COMT nas quarenta mulheres revelou que as frequências genotípicas na população em estudo são, respectivamente:
homozigóticas AA118 – 0,70, heterozigóticas A118G – 0,275, homozigóticas 118GG – 0,025; homozigóticas val-val158 – 0,225, heterozigóticas val158met –
0,625, homozigóticas 158met-met – 0,15. As frequências alélicas encontradas
foram de 0,538 e 0,463, respectivamente, para as variantes val158 e 158met, e de 0,837 e 0,162, respectivamente, para as variantes A118 e 118G. O estudo de associação destes polimorfismos (genótipos e alelos) com o efeito secundário “prurido”, decorrente da administração de opióides, foi negativo, não sendo as diferenças encontradas estatisticamente significativas.
No entanto, este é um trabalho pioneiro, não existindo previamente,
tanto quanto é do nosso conhecimento, dados publicados relativamente ao estudo de associação farmacogenética entre os polimorfismos val108/158met e 118A>G, dos genes COMT e OPRM1, respectivamente, realizado numa população obstétrica.
Os resultados apresentados são preliminares, para uma população de 40
mulheres. São necessários estudos adicionais, para avaliação da associação de genes e eficácia clínica da morfina por via epidural, envolvendo um número maior de participantes. Dissertação de mestrado em Medicina (Anestesiologia e Terapêutica da Dor), apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra