Author(s):
Vieira, Ricardo
Date: 2008
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10400.8/515
Origin: IC-online
Subject(s): Entrevista etnobiográfica; Reflexividade; Identidade; (Auto)formação; Subjectividade; Qualidade de vida
Description
Comunicação apresentada no III Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto) Biográfica (CIPA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2008. Nesta mesa redonda, procurarei, com a minha fala, mostrar como professores, imigrantes
e idosos, com quem tenho feito investigação biográfica, se redescobrem, racionalizam
experiências passadas, opções tomadas, etc., pela possibilidade de terem alguém que os
ouve e os questiona a partir das suas próprias lógicas e contextos.
Os sujeitos entrevistados reflectem, assim, também eles, sobre as intenções do inquiridor
e sobre si próprios. Neste sentido tornam-se também investigadores de si próprios. O
papel do investigador não é o de, por artes mágicas, encontrar o verdadeiro sentido das
práticas dos sujeitos estudados.
A interacção, devidamente centrada no questionamento das práticas na lógica do
entrevistado e em comparação com outras alternativas, é, possivelmente, também uma
via para reforçar a competência da reflexividade na vida profissional destes investigados
e para a conscientização da identidade pessoal e social.
Ao nível do estudo com professores, pretendo mostrar como se constrói, em cada caso, a
disposição para a construção da interculturalidade na sala de aulas.
Ao nível do estudo de imigrantes brasileiros em Portugal, trabalhando com a primeira
vaga (final dos anos 80: mão de obra qualificada) e a segunda vaga (transição do século
XX para o XXI: mão de obra desqualificada) pretendo mostrar como se reconstrói a
identidade entre duas margens: a cultura de partida e a cultura de chegada.
Ao nível da pesquisa com idosos, pretendo mostrar a utilidade de narrativas para
compreender a força do projecto pessoal de cada um na construção de uma certa
qualidade de vida, ao nível das dimensões mais subjectivas do viver.
Em qualquer dos três casos, é usada a teoria da transfusão cultural (Vieira, 1999) e
observada a heterogeneidade de modos de viver entre culturas, seja rejeitando a de
origem (o caso dos oblatos), seja rejeitando a de chegada num dado momento (os
monoculturais de acordo com a cultura de partida), seja vivendo de forma ambivalente
entre as duas (o caso do eu multicultural), seja inventando a terceira margem, como
dizem os poetas, que corresponde a uma atitude de incluir as diferenças culturais por que
se passou ao longo da história de vida num self intercultural.