Autor(es):
Martins, Teresa Maria Caldeira
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/25373
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Relações amorosas; Vinculação; Vergonha
Descrição
Nas últimas décadas, o funcionamento das relações amorosas e a
satisfação conjugal têm sido alvo de muitos estudos, nomeadamente numa
tentativa de compreensão dos principais factores que podem contribuir para
a qualidade dos relacionamentos amorosos. A problemática da satisfação e
qualidade conjugal assume cada vez maior relevância devido ao aumento
progressivo das taxas de divórcio, que se tem também tornado mais precoce.
Compreender o que pode comprometer o funcionamento diádico é
importante para o desenho de estratégias de intervenção eficazes que
conduzam a uma maior satisfação conjugal e qualidade dos relacionamentos
amorosos.
A maior parte dos estudos desenvolvidos neste contexto usou a teoria
da vinculação como quadro conceptual. Esta teoria tenta explicar o modo
como formas mais ou menos saudáveis de relações amorosas surgem como
adaptações razoáveis a experiências sociais precoces. Mas se a relação entre
a vinculação e a qualidade dos relacionamentos amorosos está já bem
documentada, os mecanismos envolvidos continuam por esclarecer. Estes
podem incluir variáveis individuais que são moldadas precocemente na
interacção com figuras de vinculação e que afectem o funcionamento
diádico, como é o caso da vergonha. No entanto, esta questão nunca foi
investigada. Desta forma, o objectivo deste trabalho foi investigar o possível
papel mediador da vergonha externa e interna na relação entre a vinculação
do adulto e o ajustamento diádico.
Para tal, foi desenvolvida uma bateria de instrumentos de auto-resposta
para medir a vinculação do adulto, a vergonha externa e interna e o
ajustamento diádico, e um questionário sócio-demográfico, que foram
disponibilizados na internet. Estes foram acompanhados por um texto
introdutório em que foram explicitadas todas as questões éticas,
nomeadamente as garantias de confidencialidade e anonimato dos dados. A
divulgação do trabalho e o convite para participação no mesmo foram feitos
por correio electrónico. Através deste procedimento foi recolhida uma
amostra composta por 228 sujeitos, maiores de 18 anos e envolvidos numa
relação amorosa há pelo menos seis meses. Os dados obtidos foram sujeitos
a análise estatística usando o programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS, versão 20.0) e a ferramenta informática PROCESS para
análises de mediação (modelo de mediação 6 – mediação múltipla em série
com duas variáveis mediadoras).
Os resultados mostraram que níveis mais elevados de ansiedade e
evitamento de vinculação estão associados a um pior ajustamento diádico
através de níveis elevados de vergonha externa, que, por sua vez, está
associada a uma elevada vergonha interna. Adicionalmente, observou-se que
a vergonha interna pode actuar, de forma isolada, como mediador desta
relação, o que já não acontece no caso da vergonha externa.
Estes resultados salientam, então, a vergonha, particularmente, a
vergonha interna, como um importante mediador da associação entre a
vinculação do adulto e o ajustamento diádico. Estes dados são importantes
não apenas pelo seu carácter inovador, mas também porque se identifica um
processo psicológico que pode ser trabalhado com sucesso em contexto
terapêutico e que é mais manejável do que os esquemas relacionais do
indivíduo, nomeadamente os modelos dinâmicos internos.
Ajudar o indivíduo a lidar com a vergonha de forma mais adaptativa
poderá contribuir para um melhor funcionamento interpessoal e para uma
vivência mais gratificante das relações amorosas e, desta forma, promover
uma revisão dos esquemas interpessoais. During the last decades, romantic relationships and marital
functioning have been the target of many studies, namely in the attempt to
clarify the main factors contributing to relationship quality. Intimate
relationship functioning is gaining increasing scientific attention due to
progressive increases in divorce rates, which is also occurring at earlier
marriage times. Understanding of the factors that may compromise intimate
relationships is critically important for the design of intervention strategies
aimed at promoting a higher marital satisfaction and relationship quality.
The majority of the studies has used the attachment theory as the conceptual
framework, as it is believed that the enduring quality of attachment is a
critical underlying feature of adult relationships and capacity for intimacy.
Although the association between adult attachment and intimate relationship
functioning is already well established, the mechanisms involved are still
poorly understood. These may include individual factors that are shaped in
early interactions with attachment figures and also impact dyadic
functioning, such as shame. However, this issue has never been addressed.
The present study aimed at investigating the mediating role of external and
internal shame on the association between adult attachment and dyadic
adjustment.
For that, a battery of self-report measures of adult attachment, external
and internal shame and dyadic adjustment, and a socio-demographic
questionnaire were developed and made available online. This was
accompanied by an introductory text in which all ethical issues and
information regarding confidentiality were explained. An invitation for the
participation in this study was spread by e-mail. This procedure allowed for
the collection of a sample composed by 228 individuals, older than 18 years
old and committed to a romantic relationship for at least six months. The
data analyses were conducted using the Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS, version 20.0) and the computational tool for path-analysis
based mediation analysis, PROCESS (model 6 – serial multiple mediation
model with two mediator variables).
The results showed that increased levels of attachment anxiety and
avoidance are associated with a poorer dyadic adjustment, through higher
levels of external shame, which is associated with high internal shame. In
addition, the data demonstrated that internal shame alone may act as a
mediator of the association between adult attachment and dyadic adjustment,
which does not hold true for external shame.
These findings highlight the importance of shame, particularly internal
shame, as a mediator of the association between adult attachment and dyadic
adjustment. Besides being an innovative contribution, these data are
important because they allowed the identification of a psychological process
that may be successfully targeted in therapy and is easier to handle than
relational schemata, namely the internal working models.
Helping individuals to deal with shame in a more adaptive fashion
may contribute to a better interpersonal functioning and to a more gratifying
experience of romantic relationships, which may promote revision of
interpersonal schemata. Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde (Intervenções Cognitivo-Comportamentais nas Perturbações Psicológicas e da Saúde), apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.