Autor(es):
Machado, Rui Pedro
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/24419
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Empreendedorismo; Mega, estrutura; Poliestireno expandido
Descrição
Foi durante a preparação desta tese de mestrado que me surgiu a oportunidade de
realizar um estágio, com uma bolsa da universidade, num conceituado atelier europeu.
O fascínio e curiosidade pelas obras de Antón Garcia-Abril e o seu atelier Ensamble
Studio não me deixaram dúvidas na hora de escolher e rapidamente parti para Madrid.
Nos quatro meses de estágio a minha colaboração, entre outros projectos, esteve
centrada no desenvolvimento de estruturas em poliestireno expandido. O objectivo era
claro; criar um novo sistema construtivo utilizando apenas este material,
Construímos uma viga em I com 1,5 metros de altura e 16 metros de comprimento,
aplicando a lógica do betão pós-esforçado na sua construção - com duas linhas de
cabo pós-tencionado e um revestimento à base de resinas - mas com um material
que, virtualmente, não pesa nada. Utilizamos poliestireno expandido de 30kg/m3 de
densidade o que confere à viga uma excelente resistência à compressão. Num dos testes
realizados, apoiamos a viga pelos extremos e todo o atelier se sentou em cima dela,
12 pessoas, cerca de 1000kg, o equivalente a cerca de 4 ou 5 vezes o peso da viga,
sendo que esta apenas deformou 1,5 centímetros. Se compararmos os valores com uma
viga de betão, equivale a 100 toneladas sobre uma viga de 25 toneladas. Os cabos
pós-tencionados carregam todo o peso e oferecem resistência à compressão exercida na
massa da viga, tal como no betão mas eliminando 25 toneladas de peso.
Esta arquitectura desafia as suposições contemporâneas sobre composição, montagem
e pré-fabricação. Ao eliminar os pesos mortos da construção prevalecerá a leveza e a
flexibilidade. A gravidade torna-se quase irrelevante, ao contrário do vento e das cargas
vivas (pessoas e objectos) que são o principal ponto a considerar.
A ideia de romper com o paradigma de como os edifícios são construídos, privilegiando
o fabrico destes, ficou-me marcada na experiência que tive em Madrid. Através do
exercício de desenho e com o uso e o desenvolvimento de um certo material e de uma
certa tecnologia é possível alcançar novos conceitos tectónicos. Assim pretendo criar
um produto que seja revolucionário a todos os níveis e que traga um novo conceito
associado à sua tecnologia, o que implica a introdução de diferenças no desenho do
projecto. Este novo sistema construtivo permite usufruir das vantagens proporcionadas
pela pré-fabricação como o tempo, a sustentabilidade, a segurança ou a qualidade,
inalcançáveis na construção tradicional. À medida que trabalhava com o poliestireno expandido fui desenvolvendo uma
vontade de o associar à minha vida profissional como arquitecto. Assim, envolto num
panorama social adverso, procurei aplicar os conhecimentos adquiridos em arquitectura
para desenvolver um projecto inovador. É então que se inicia o interesse num conceito
abandonado em meados do século passado, a Mega-estrutura.
Um sistema construtivo à base de poliestireno expandido (leve, barato e móvel) é o
sistema ideal para conjugar com uma estrutura desenvolvida para suportar e alimentar
módulos habitacionais, construídos previamente. Deste modo, é fácil criar um negócio
que tem como público-alvo jovens a estudar longe da terra natal, proporcionando-lhes
a possibilidade de obter uma casa por um preço mais reduzido que o aluguer de um
apartamento durante o período de estudos. Assim, é possível desenvolver uma dinâmica
de rotatividade que oferece uma nova vida a um conceito que, no século passado, ficou
ligado a utopias inconsequentes construtivamente.
O próprio conceito de Mega-estrutura está bastante ligado ao momento que atravesso,
quer pelo fim do ciclo de estudos, quer pelo panorama actual de crise. Foi em revolta
contra o Movimento Moderno e por falta de soluções no mercado de trabalho, que os
Archigram, os Superstudio e os Metabolistas japoneses desenvolveram utopias à volta
de um conceito novo na época. A perseverança destes recém arquitectos em expor as
sociedades em que viviam e a falta de condições de trabalho que lhes era apresentada
foi demonstrada ao mundo através da criação de imagens sublimes e projectos icónicos.
Extasiados pela ligação entre as novas tecnologias e a arquitectura, reinventaram a
educação sobre a matéria, chegando a antever a revolução na informação com bastante
antecedência. É, então, natural o aparecimento de projectos que procuravam alterar
e chocar uma sociedade que acabava de sofrer com as consequências de uma grande
guerra, necessitando portanto, de mudança.
No primeiro capítulo desta tese viajo até aos anos 60 procurando compreender as
motivações dos grupos que estão ligados à história da mega-estrutura, tentando
também, compreender o que falhou nas suas abordagens. No capítulo seguinte faço
uma recolha de dados específicos sobre as capacidades físicas do poliestireno expandido
e das vantagens que este material oferece à construção nos dias de hoje. Por último,
apresento a INTO THE BOX, que é uma marca que vende módulos habitacionais
que, caso seja do interesse do cliente, pode ser alocada numa das várias mega-estruturas
espalhadas pelo país. Estas mega-estruturas estão disponíveis, preferencialmente, junto
a universidades permitindo, aos clientes da marca, espaço para alocar o seu módulo,
fornecendo-lhEsta tese pretende ser mais que uma simulação de um projecto inovador. Into the Box
é uma marca que tem como intenção projectar-se para o mundo empresarial com um
plano de acção sustentado. A sua pertinência sustenta-se no panorama actual de crise
económica; no reaproveitamento do conceito de Mega-estrutura tornando-a viável na
sociedade actual e servindo-se das potencialidades mecânicas do poliestireno expandido;
e no empreendedorismo proveniente da reflexão sobre o campo empresarial a que o
arquitecto tem de estar preparado. Portanto, Into the Box: o Panorama Actual, a
Mega-estrutura, o Poliestireno Expandido e o Empreendedorismo. também, água, energia e facilidades. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.