Autor(es):
Pereira, Pedro Miguel
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/24236
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Ordenamento do território, Baixo Mondego
Descrição
A partir do Choupal, até à foz na Figueira, a imagem do Baixo Mondego
caracteriza-se, desde há muito, pela imensidão dos seus campos agrícolas, marca
da acção humana ao longo dos séculos. Como objectivo primordial pretende-se
sintetizar e traduzir a identidade deste território. Torna-se pertinente a
valorização de um vale riquíssimo quer pela sua variedade de fauna e flora, quer
pela fertilidade dos seus campos. Um excelente exemplo de vida animal e
variedade de coberto vegetal é o Choupal, situado na margem direita do rio, logo
depois da ponte do Açude. Ainda de âmbito ambiental são de salientar os Pauis
do baixo Mondego que se estendem pelos braços dos afluentes do Rio Mondego
nesta última secção. No último trecho deste vale o Mondego abre-se num amplo
estuário com 10 quilómetros de comprimento. Neste encontro com o Atlântico,
desenvolveu-se fortemente o cultura do Sal.
Indissociáveis da história da formação deste Território são as obras do Homem
sobre o Rio. Importante torna-se portanto, perceber como o Homem lidou com o
Rio e o transformou. A violência das cheias e a sua elevada frequência, transformaram uma vasta bacia aluvial com 150 Km2 de área numa espécie de
delta inferior em assoreamento contínuo e rápido que só foi travado com as
Barragens construídas no Médio Mondego. O campo sempre forneceu a maior
parte dos produtos agrícolas comercializáveis como o arroz, milho e hortícolas,
enquanto o monte, protegido da zona de cheia assegurava as necessidades básicas
em matéria de subsistência – lenha, batata, vinho, fruta e azeite.
Neste contexto é proposto a revalorização e a revitalização da paisagem ribeirinha
do Mondego, através da potenciação do corredor verde sustentado no desenho de
uma ciclovia que permitirá a interpretação e o entendimento de um vasto
território, como também uma nova perspectiva de ordenamento do território,
num quadro de sustentabilidade ambiental, social e económica, despertando
assim o interesse de investidores, turistas e a auto-estima das populações. Posto
isto, demonstra-se essencial projectar roteiros como expressão física de ideias
culturais e ambientais, através de um desenho específico que visa a Saúde e Bemestar
dos utilizadores. O objectivo principal passa por interpretar toda uma vasta
região e implementar equipamentos que façam a ponte entre o passado e o
presente e que construam uma paisagem cultural, aquela que assinala as marcas
da acção humana. A realização de um mapa permite a síntese descritiva e
interpretativa de um território.
Foram definidas zonas de tratamento específico onde, em maior detalhe, se
organiza o relativo aos usos de circulação, à instalação/recuperação de edificações
- como o Moinho das 12 Pedras, as Termas da Amieira e o Celeiro da Quinta do
Paço- destinadas a acolher o visitante e a remetê-lo para a interpretação deste
território.
Estas zonas de tratamento específico são resultado das obras do homem
combinadas com a natureza, que registam uma paisagem cultural1. Apesar de o 15
Baixo Mondego ter um carácter natural, a paisagem foi desenhada e criada
inteiramente/intencionalmente pelo homem, ou seja, abrange a diversidade de
manifestações resultantes da interacção entre o Homem e o ambiente natural2.
Para atingir este objectivo, primeiramente foi necessário a leitura e análise de
trabalhos como “O esforço do homem na bacia do mondego” e “Projecto
Territorial do Parque Patrimonial do Mondego –revisitações da paisagem cultural
ribeirinha”, assim como de outros trabalhos ou artigos redigidos em publicações
como: Locus, Sociedade e Território, Cadernos de Geografia, JA Jornal de
Arquitectos, e outras publicações que se demonstraram significativas.
Os casos de estudo escolhidos – Parque Nacional da Peneda-Geres, Vale do
Ocreza e Parque Agrícola do Baixo Llobregat - justificam-se pela diversidade de
entendimento e interpretação do território fruto de diferentes metodologias
adoptadas em cada caso. Ambos os casos representam a imagem de uma
colectividade que construiu um património natural e cultural, reflexo da
paisagem em que estão inseridos. Um pelo valor ambiental e paisagístico
intimamente ligado à Natureza como é o caso do Parque Nacional da Peneda-
Geres; outro pela abordagem e pelo olhar do Arquitecto no desenho de projecto,
que visa ser contemplativo e interpretativo de uma região como e o projecto de
José Adrião para o Vale de Ocreza; e finalmente, numa aproximação ao tema
agrícola, e com características muito comuns ao Baixo Mondego, surge o Parque
Agrícola do Baixo Llobregat, em Barcelona, que permite entender as estratégias
de preservação do espaço agrário e a promoção e desenvolvimento económico das
explorações agrícolas.
No que toca à aproximação e entendimento do desenvolvimento do Território –
Baixo Mondego - foi necessária a recolha de cartografia e imagens de forma a
compreender as transformações que a Região e principalmente o rio Mondego
sofreram. Imperioso foi também realizar um trabalho de campo, uma série de visitas ao Baixo Mondego, desde o Choupal ao Salgado da Figueira, mas também
aos pequenos núcleos habitacionais que se foram desenvolvendo em torno dos
Campos Agrícolas, protegidos da linha de cheia. O intuito destas visitas foi de
registar, quer pelo desenho ou fotografia, locais ou edifícios que sejam reflexo da
imagem daquele território, que representem a relação entre o Homem e o Meio,
como resultado/construção de um processo dinâmico que acaba por definir a
paisagem do Baixo Mondego. Feito este trabalho de aproximação e identificação
do Vale do Mondego tornou-se indispensável a realização de um mapa de escala
territorial para iniciar o trabalho de projecto. Foi impreterível portanto, a
realização de plantas através da cartografia e desenhos recolhidos que
sustentassem o desenho da ciclovia, assim como das infra-estruturas necessárias
ao seu desenvolvimento.
Esta abordagem sobre o Baixo Mondego culmina no desenvolvimento de 3
projectos exemplificativos: a conversão das termas da Amieira num Spa/Ginásio e
alojamento; a recuperação do Celeiro da Quinta do Paço, em Tentúgal, enquanto
Centro de Interpretação Agrícola; e a reabilitação do Moinho das 12 Pedras, na
Figueira da Foz, num Restaurante de carácter interpretativo, quer pela história do
edifício, quer pelos produtos e sabores daquela Região. Como fio condutor destes
projectos, desenhou-se uma ciclovia, com diversos pontos de paragem,
(miradouros, parques de merendas, centros de interpretação), que conferem um
carácter unitário aos programas propostos, naquilo que será a exaltação de um
corredor interpretativo dos Campos de Coimbra, que engloba os pequenos
núcleos populacionais através dos 4 temas que caracterizam o território do Baixo
Mondego: a Água, a Agricultura, o Sal e o Ambiente.
A Dissertação está divida em 3 partes. Na fase inicial da elaboração deste trabalho
procurou-se definir o conceito de paisagem enquanto resultado da acção humana
sobre o território. Nesse sentido uma visão geográfica e os trabalhos de Augustin
Berque foram fundamentais no entendimento de um território enquanto
paisagem cultural - espelho do Homem e das suas acções ao longo dos tempos.No segundo capítulo será caracterizado o Rio Mondego, fio condutor de todo o
trabalho. É importante perceber o percurso ziguezagueante que faz desde a
nascente à foz e reconhecer a importância que teve na História, desde o rio
irreverente que permitiu a fixação das populações na cidade de Coimbra, até ao
rio “pachorrento” depois das grandes obras de aproveitamento hidráulico e
agrícola, como são exemplo a barragem da Aguieira e o Açude. Neste seguimento
abordou-se a acção do homem sobre o rio e as suas margens, na sua fase final
denominada Baixo Mondego, procurando afirmar uma identidade cultural,
baseada nos costumes e história deste território.
A terceira parte diz respeito exclusivamente à prática de projecto. Trata os casos
de estudo, o desenho do mapa, a delineação da ciclovia ao longo do Baixo
Mondego e as rotas que evocam a memória daquilo que o rio e as suas gentes já
foram. Neste capítulo são apontados e sustentados nos temas da Água,
Agricultura, Sal e Ambiente, os percursos de lazer e didácticos, mas também as
implantações dos diferentes programas, assim como a justificação da sua escolha.
Aqui são desenvolvidos todos os projectos tendo em conta estes conceitos,
procurando sempre a imagem material e imaterial do Rio, o verdadeiro
protagonista, o elemento de unificação identitária do Território. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.