Autor(es):
Figueiredo, Ana Teresa
Data: 2013
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/24074
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Hospital de S. João do Porto; Hospital da universidade de Coimbra
Descrição
A partir do século XX, uma nova linguagem, proveniente da revolução industrial,
torna-se transversal a todo o discurso arquitectónico. O hospital pavilhonar é
substituído por uma nova tipologia – o hospital vertical. Com o acelerado
crescimento urbano proveniente do processo de industrialização das cidades, as
novas construções hospitalares tendem a ocupar um lugar periférico, o que lhes
permitia prever e introduzir posteriores ampliações e, ao mesmo tempo, os dotava
de uma tranquilidade, não encontrada no interior dos centros urbanos. Se num
primeiro momento esta periferização do hospital conduz ao aparecimento de novas
vias estruturais de circulação automóvel que permitissem a sua ligação aos centros
urbanos, ao mesmo tempo potenciava o desenvolvimento de toda essa área
periurbana.
Actualmente, este afastamento esbate-se em função de uma posterior malha urbana
ter absorvido estas regiões. O hospital passa a estar integrado na cidade tornandose
um “motor de economia” da mesma. Dada a especificidade e complexidade do
programa que incorpora, tende a propiciar o aparecimento de novos equipamentos,
não só de apoio à própria actividade escolar, mas, também, de ensino, habitação,
comércio, etc. Contudo, persistem ainda problemas de articulação e estruturação da
rede viária e áreas de estacionamento, bem como a abertura destes equipamentos à
sua envolvente e aos eixos de animação urbana. Com base nestas considerações, depreende-se a relevância e a actualidade do tema
de requalificação das envolventes hospitalares como meio de minimizar os
problemas socio-urbanísticos e promover o desenvolvimento equilibrado destas
zonas da cidade. “O hospital de Hoje deve ser aberto para a cidade e romper com esta
imagem de fortaleza implantada (…) nas franjas das nossas cidades que durante
séculos simbolizaram a exclusão, a morte e a doença.”1
Esta questão revela-se importante quando enquadrada numa reflexão sobre o
espaço público hospitalar, enquanto espaço urbano e enquanto palco de diferentes
níveis de socialização.
Partindo deste princípio, a requalificação destas áreas constitui uma oportunidade
de inverter a “dinâmica negativa” que envolve o Hospital, promovendo um
ambiente urbano, social e globalmente coeso e equilibrado na cidade.
Deste modo, esta dissertação tem como objectivo, a partir do estudo de dois
hospitais portugueses – o Hospital de Universidade de Coimbra, EPE. e o Hospital
de São João, EPE - compreender a relação destes equipamentos com a cidade e a
sua participação directa ou induzida na construção da mesma, bem como elaborar
uma reflexão sobre o conceito de hospital contemporâneo e a forma como
arquitectos e urbanistas intervém hoje na envolvente destes equipamentos, numa
tentativa de adaptar o hospital do século XX à cidade do século XXI.
A consciência da importância deste tema na actualidade, motivou a escolha no
âmbito desta dissertação. Considerou-se útil a elaboração de um estudo que, por
um lado contribuísse para a compreensão da problemática em questão e por outro
sistematizasse alguns objectivos globais de intervenção arquitectónica na
requalificação destes espaços. Para tal, procedeu-se à leitura e análise de diversas
obras e trabalhos académicos como: “A Cabana do Higienista”, “Hospitais: daorganização à arquitectura”, “Os novos princípios do urbanismo: o fim das cidades
não está na ordem do dia”, “Para uma Cidade mais Humana”, “Reabilitar o urbano
ou como restituir a cidade à estima pública”, “Colóquio Hôpital, urbanisme et
Architecture” bem como de diversos artigos em publicações periódicas, com edições
dedicadas à saúde e ao urbanismo, que se evidenciaram mais significativas, como
por exemplo “El espácio público como Crisis de significado” e “Espaços de Saúde”.
Não menos importante foi também a aula “Hospitais: edifícios de corpo e alma”,
leccionada no Departamento de Arquitectura da FCTUC pelo Dr. Artur Vaz e
organizada pelo Professor Doutor Paulo Providência.
A escolha dos objectos em estudo justifica-se por, em ambos os casos, se tratarem
de hospitais escolares construídos durante o século XX na periferia da cidade e por,
se terem desenvolvido projectos de reabilitação da envolvente hospitalar, factos que
permitem a análise e comparação entre eles. É de salientar no entanto que, apenas
no caso do Porto, o projecto se encontra em fase de execução.
O Hospital de São João, EPE, inaugurado em 1959, da autoria do arquitecto alemão
Hermann Distel, trata-se de um hospital escolar construído em plena época do
Estado Novo, cuja obra é bem representativa deste tipo de Arquitectura de Estado.
A dualidade programática – Hospital e Faculdade de Medicina – deste projecto veio
assim motivar a edificação de novas infra-estruturas, dando origem ao actual Pólo
II da Universidade do Porto.
Inicialmente, colocado na periferia da cidade, na zona da Asprela, o hospital apenas
dialogava com o centro urbano através da Circunvalação. Posteriormente, durante
a década de 50 e aquando a concretização do Plano Regulador da Cidade do Porto,
são propostos novos eixos rodoviários que viriam agilizar não só a ligação ao
hospital, mas também da cidade universitária ao centro urbano. Para além dos
diversos edifícios dedicados ao ensino começam a surgir outro tipo de infraestruturas
que, por sua vez, complementam as já existentes. É o caso do Instituto Português de Oncologia (IPO), das residências universitárias, de habitações
colectivas e unifamiliares e, em 2005, da linha amarela do Metropolitano do Porto.
Actualmente o Projecto da Área Central do Pólo II da Universidade do Porto, criado
sob a orientação do Arquitecto Rui Mealha, visa a estruturação funcional,
urbanística e ambiental2 desta zona da cidade. A criação de um espaço ligado à
Ciência e Tecnologia e de um Parque Urbano, reabilitando a antiga Ribeira da
Asprela, aliados a uma série de factores de atractividade e a novos eixos de
mobilidade, potenciarão o desenvolvimento de uma nova centralidade urbana na
cidade do Porto.
O Hospital da Universidade de Coimbra, EPE, inicialmente instalado nos velhos
colégios da Alta, começa a ser construído em 1980 nos terrenos da Quinta do
Espinheiro, em Celas. Seguindo a tipologia monobloco vertical, o projecto da
autoria do arquitecto Fernando Flores, implantado no centro do terreno, carece de
relação com a própria cidade. Tal como no Porto, também a localização periférica
do hospital motivou o aparecimento de novas infra-estruturas e equipamentos
ligados ao ensino e à saúde. A deslocação da Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra para junto do Hospital retoma a imagem
Faculdade/Hospital, outrora existente aquando a sua fixação na Alta de Coimbra.
O plano do Pólo das Ciências da Saúde - Pólo III, do arquitecto Rebelo de Andrade,
vem propiciar um novo centro de ensino, investigação e tratamento na área da
saúde em Coimbra. No entanto, trata-se de um plano voltado para dentro do seu
próprio programa3 não comunicando com o hospital, como seria de esperar. O projecto urbano para o HUC, realizado pelo Centro de Estudos em Arquitectura
da FCTUC (CEARQ), sob a coordenação dos Arquitectos Gonçalo Byrne e António
Bandeirinha, fundamenta uma proposta de reabilitação da envolvente hospitalar,
com a criação de novos equipamentos de saúde e consequente estruturação da rede
viária e qualificação do espaço público, propiciando o diálogo entre Hospital,
Universidade e Cidade. Também aqui, a incorporação do metro ligeiro de
superfície vai reforçar e complementar o sistema de circulação viária.
Esta dissertação encontra-se dividida em dois capítulos. No primeiro capítulo –
Evolução da tipologia hospitalar - irá fazer-se uma abordagem à história dos
hospitais, a partir do século XVIII, seguindo uma lógica cronológica. Pretende-se
assim compreender o conceito de hospital e a sua evolução ao longo da história.
Inicia-se com a tipologia pavilhonar seguindo-se o hospital vertical, cuja influência
e linguagem dos processos industriais marca a arquitectura moderna. Numa
segunda fase procede-se a uma reflexão sobre o conceito de hospital
contemporâneo, abordado sobre dois pontos de vista: o hospital enquanto edifício
propriamente dito e as componentes que influenciam a sua arquitectura e o espaço
público enquanto espaço de saúde. Este subtema fará a ponte entre o capítulo I e o
capítulo II.
No segundo capitulo – O hospital como factor de desenvolvimento urbano – irá
proceder-se à análise dos casos de estudo e dos respectivos Planos de Urbanização,
tendo em conta três componentes: Hospital, Universidade e Cidade. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.