Author(s):
Silva, Nuno Miguel
Date: 2012
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10316/23291
Origin: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Subject(s): Claustro de D. João III do Convento de Cristo; Claustro, Portugal, séc. 16-17; Serlio, Sebastiano, 1475-1554, obra
Description
O tema Claustros Serlianos em Portugal surge no seguimento de um trabalho da
disciplina de História da Arquitectura Portuguesa, Claustros ao Romano – séries de
claustros do período Clássico em Portugal. À luz do século XVI e primeira metade do
século XVII, este trabalho consistia numa síntese de claustros renascentistas, dividida
em três tipos: Claustros de Arquitrave Recta; Claustros de Arcaria e Arquitrave Recta
no Piso Superior; Claustros Serlianos.
“De origem mediterrânica (muçulmana e cristã), o claustro assume, na Idade Média, o
carácter de jardim fechado ou horto, simbolicamente conotado com o jardim
paradisíaco da tradição bíblica, comportando igualmente funções de cunho utilitário
(para cultivo de plantas e horticultura), de recreio e de lazer. Durante os séculos XV e
XVI o recinto claustral contrai uma feição humanista.”2
O claustro, objecto arquitectónico, tipicamente caracterizado por um espaço aberto
encerrado por quatro galerias, vem a tornar-se um elemento particularmente
importante pelo seu carácter de interior/exterior, num jogo de ar livre protegido.Após uma pesquisa bibliográfica e estudo, o grupo dos Claustros Serlianos
demonstrou maior pertinência e interesse em ser aprofundado, nomeadamente pela
possibilidade deste motivo em clautros ter tido a primeira expressão em Portugal, com
o Claustro de D. João III do Convento de Cristo em Tomar.
O estado da arte relativo ao motivo Serliano em claustros está pontualmente
abordado por alguns autores: George Kubler em A Arquitectura Portuguesa Chã,
estuda os Claustros de Tomar e de S. Domingos de Benfica; Miguel Soromenho e
Rafael Moreira dedicam-se, respectivamente, ao Claustro de S. Bento da Vitória no
Porto e ao Claustro de Torralva em Tomar, em História da Arte Portuguesa volume
II,Círculo de Leitores. Estas obras serão referênciais para este trabalho.
Assim, esta reflexão terá como intuito estabelecer uma abordagem comparativa e
de conjunto no uso da serliana nos claustros portugueses.
“O Claustro de Tomar é muito mais complexo que qualquer desenho italiano do
mesmo século.” 2
Pretende-se perceber como começa este “movimento”, o sentido inovador e o seu
seguimento no uso da serliana; perceber o facto de ser tão breve; perceber o que leva a
um intervalo de duas décadas entre o primeiro exemplo - o Claustro de Tomar do
traçado de Torralva (1558-1564, com a retoma do motivo serliano em 1584, com o
início dos trabalhos de Terzi em Tomar) e o conjunto que se seguiu de Claustros
Serlianos (1596-1635).
O facto da serliana ser tão pouco usada em Claustro desperta curiosidade
acrescida, assim como o carácter pioneiro da utilização deste motivo em claustro, com
o exemplo de Diogo de Torralva (1500-1566) no Convento de Cristo em Tomar. A evolução do método construtivo/estrutural usado nos claustros da época
acrescenta interesse por este trabalho. A passagem do uso do contraforte nos Claustros
Castilhianos (e.g. Colégio de S. Tomás e Colégio de S. Jerónimo, em Coimbra) para o
uso da Serliana. O Claustro Castilhiano é tipicamente de configuração quadrangular e
duplo andar, dotado de três tramos separados por contrafortes e preenchidos por um
sistema de arcaria geminada (ao nível do piso inferior) e vãos de verga recta (ao nível
do piso superior). Os espaços claustrais dos colégios renascentistas da Rua da Sofia, em
que se enquadra o de S. Tomás, formalizam um conjunto tipológico homogéneo, que
resultou de uma evolução tecnológica e estilística delineada pelo mesmo autor, Diogo
de Castilho, para específica adaptação às necessidades dos novos colégios
universitários.
No conjunto de Claustros Serlianos em Portugal, iniciado pelo Claustro de D.
João III, identificam-se mais seis casos de estudo. Esta selecção deve-se às
características de cada um destes claustros, onde se pode observer a matriz serliana do
tratado de Serlio: o claustro do Colégio dos Agostinhos de Coimbra, de Filipe Terzi,
datado de 1593-96; o claustro do Convento da Graça de Lisboa, sendo obra anónima,
possivelmente de finais do século XVI; o claustro de S. Bento da Saúde em Lisboa, de
Baltasar Álvares, datado de 1598-1615; o claustro de S. Bento da Vitória no Porto, de
Diogo Marques Lucas, datado de 1608; o claustro de S. Domingos de Benfica, que
poderá estar ligado a Diogo Marques Lucas, datado de 1624; e o claustro do Santíssimo
Sacramento de Alcântara, de autor desconhecido, datado de 1620-1635.3 Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.