Autor(es):
Araujo Pedrosa, Anabela
Data: 2012
Identificador Persistente: http://hdl.handle.net/10316/20939
Origem: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Assunto(s): Psicologia da Saúde; Psicologia da Gravidez e da Parentalidade; Gravidez e maternidade na adolescência; Adaptação
Descrição
Enquadramento. A importância das características individuais, mas também dos contextos históricos, culturais e
sociais nos quais aquelas se desenvolvem e expressam, bem como a diversidade possível de percursos
desenvolvimentais com que o indivíduo se depara, emerge com grande evidência quando nos debruçamos
sobre o estudo da gravidez e maternidade na adolescência; alvo de grande atenção científica e política nas
últimas décadas, surge-nos como uma intrincada tapeçaria onde se entrelaçam dimensões pessoais,
interpessoais, socioeconómicas, éticas e mesmo religiosas. Embora as concepções deterministas sobre a
fatalidade da maternidade na adolescência para o desenvolvimento posterior das mães e das crianças venham
sendo postas em causa pelos resultados dos estudos enquadrados nas perspectivas ecológicas, e
nomeadamente no macroparadigma da Psicopatologia do Desenvolvimento, é ainda irrefutável que a sua
ocorrência pode ampliar vulnerabilidades prévias e dificultar a prossecução de trajectórias favoráveis de
adaptação, para as jovens que engravidam e para os seus filhos.
Apesar dos dados disponíveis apontarem para um decréscimo significativo das taxas de nascimentos de mães
adolescentes no nosso país, Portugal continuar a evidenciar uma posição susceptível de melhoramento no
quando da União Europeia, particularmente se considerarmos os quinze países mais desenvolvidos. A Região
Autónoma dos Açores é a zona onde a gravidez durante a adolescência tem tido maior incidência,
apresentando taxas que são o dobro das verificadas no continente; as potenciais consequências destes
processos tornam premente o conhecimento aprofundado dos níveis e variáveis interactuantes, possibilitando
uma intervenção preventiva que aja nos diferentes contextos de vulnerabilidade para o risco que se pretende
atenuar.
Metodologia. O estudo é de natureza transversal. Foram recolhidos dados de 176 grávidas e mães adolescentes, e de
igual número de adolescentes sem história de gravidez. Foram caracterizados os contextos individuais e
relacionais das adolescentes (nomeadamente o contexto familiar na infância e no momento actual) e avaliados
indicadores da adaptação pessoal (sintomatologia depressiva - medida através da EPDS: Edinburgh Postnatal
Depression Scale - e qualidade de vida – medida através da escala WHOQOL-Bref) e relacional (qualidade da
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relação com figuras significativas, satisfação com o apoio social por elas proporcionado, satisfação com a
relação com o bebé e percepção de competência e realização maternas). Em todo o processo de recolha e
tratamento de dados foram tomadas medidas para cumprimento dos imperativos éticos subjacentes aos
procedimentos de investigação.
Resultados. Dos resultados do estudo empírico destacam-se os seguintes: as adolescentes com história de gravidez
(GADOL) distribuem-se pelas ilhas seguindo o número de habitantes, e diferem significativamente do grupo de
controlo em diversas variáveis individuais e familiares, particularmente nas que dizem respeito ao estado civil,
habilitações e abandono escolar (cuja taxa atinge os 78.4% no primeiro grupo), composição do agregado
familiar e benefício por parte deste de benefícios sociais; relativamente à história de saúde reprodutiva, as
GADOL iniciam mais cedo a vida sexual, tendem a utilizar menos métodos contraceptivos e a prevenir menos as
doenças sexualmente transmissíveis; a história familiar de gravidez na adolescência é mais frequente no
GADOL, e este grupo percepciona de forma mais positiva o impacto da ocorrência de uma gestação nesta fase
do ciclo de vida – apesar disso, 68.2% das adolescentes deste grupo afirmam que a sua gravidez não foi
desejada; a reacção da adolescente e das figuras significativas perante a ocorrência da gravidez foi no geral
muito positiva; os valores obtidos pelo GADOL são globalmente indicativos de boa adaptação individual e
relacional, embora sejam consistentemente estas adolescentes que percepcionam menor qualidade nas
relações com as figuras significativas da sua rede social, nomeadamente com a mãe – apesar disso, manifestam
satisfação com o apoio social disponibilizado pela rede familiar e institucional; nos modelos preditivos da
ocorrência de gravidez e maternidade adolescente, bem como nos que procuram explicar a adaptação face a
esses eventos, predominam as variáveis dos contextos familiares e relacionais.
Conclusões. Globalmente, os resultados do estudo apontam para a existência de um contexto sociocultural que leva
a que o papel materno, e a conjugalidade e maternidade enquanto meios de valorização e afirmação femininas,
sejam prevalecentes nestas jovens; os modelos familiares, as condições socioeconómicas adversas, e o elevado
abandono escolar são outros factores que concorrerão para maximizar as possibilidades de ocorrência de
gravidez precoce em situações de risco, nesta população. Apesar de no geral os indicadores de adaptação
serem favoráveis, no momento da avaliação, existem indícios que apontam para a deterioração gradual desses
indicadores, após a transição para a maternidade. A intervenção preventiva nestes processos deve contemplar
não apenas o contexto individual, mas igualmente os contextos relacionais e sociais. Fundação para a Ciência e
Tecnologia (SFRH/BD/3168/2000)