Author(s):
Nunes, Susana Margarida da Costa
Date: 2011
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10316/17895
Origin: Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Subject(s): Prefixação -- Língua portuguesa; Prefixo -- língua portuguesa
Description
O presente estudo visa descrever e explicar a formação de palavras por
prefixação, mais especificamente a que envolve os elementos prefixais co-, contra-,
entre-, inter-, so(b)-/sub-, sobre- e sem- da língua portuguesa, que procedem de
preposições latinas, analisando as suas propriedades combinatórias e semânticas, assim
como o modo como estas se repercutem no produto derivacional.
Este trabalho ancora-se (i) no modelo associativo de formação de palavras, que
defende a articulação estreita entre a estrutura formal e o significado do produto e
concebe o constituinte morfológico como um domínio estruturado de construções,
assente na interatividade entre a morfologia e os demais componentes da gramática, e
(ii) na concepção da linguagem desenvolvida por Jackendoff (2002) que, no programa
„arquitetura paralela‟, equaciona uma visão dinâmica de genolexia, partindo do
pressuposto de que os operadores afixais transportam especificidades semânticas
próprias que se correlacionam com os traços inscritos lexicalmente nas bases, sendo esta
operação responsável pela formatação semântica final do produto.
Procede-se, no capítulo I, (1) à explanação do modelo teórico-metodológico
adotado e (2) à apresentação do status quaestionis sobre prefixação, designadamente no
que concerne à relação estabelecida entre elementos preposicionais e elementos
prefixais e às distintas propostas de classificação (semânticas, categoriais e não
categoriais), aplicadas aos elementos prefixais do português. Segue-se, ainda neste
capítulo, (3) a análise da prefixação enquanto processo de formação de palavras,
problematizando-se algumas das propriedades comummente atribuídas aos operadores
prefixais, nomeadamente (i) o seu caráter homo ou heterocategorial, (ii) o seu poder
categorial, (iii) a sua capacidade de alteração da estrutura semântico-conceptual e da
estrutura argumental da base a que se acopla e (iv) a informação semântica veiculada
pelos elementos prefixais interagentes nos processos de formação de palavras em
português. Defende-se, também, a adoção de critérios morfo-sintático-semânticos para a
consideração dos elementos prefixais em três grupos distintos: (i) prefixos
modificadores (elementos intransitivos que fazem uma predicação sobre as propriedades
semânticas da base a que se acoplam, matizando, sobretudo pela introdução de
informação de teor avaliativo, o seu significado), (ii) prefixos preposicionais (elementos transitivos que herdam o valor semântico - geralmente locativo - da preposição que lhe
está na origem, e que aportam alteração da Estrutura Argumental – EA - da base) e (iii)
prefixos argumentais (elementos que introduzem noções como a cooperatividade ou a
reciprocidade e que apresentam a capacidade de realizar a alteração do preenchimento
de um dos argumentos da base, nomeadamente ao nível dos actantes), podendo, em
alternativa, desencadear alteração da EA da mesma.
Seguidamente, procede-se, no capítulo II, à análise da prefixação instanciada
pelos prefixos que, na fase atual da língua, coincidem com preposições
configuracionalmente homólogas (co-, contra-, entre-, inter-, so(b)-/sub-, sobre- e
sem-). Estes prefixos, não obstante procederem etimologicamente de preposições, são
detentores de características diversas das evidenciadas pelos elementos preposicionais
que estão na sua origem, o que se repercute no seu funcionamento enquanto prefixos
modificadores, preposicionais ou argumentais.
A análise do corpus, maioritariamente extraído de fontes lexicográficas,
evidencia a existência de classes prefixais diferenciadas, que fazem da prefixação um
domínio heterogéneo. A análise realizada permite-nos explicar, no capítulo III, a
existência de diferentes graus de prefixização, desencadeados através de um processo de
(des)gramaticalização (Castilho 1997, 2004; Hopper e Traugott 2003; Van Goethem
2009), que dá conta da passagem de uma preposição a um elemento prefixal, tendo por
base, segundo Amiot e De Mulder (2002), critérios como (i) o caráter endo- ou
exocêntrico do produto compósito, (ii) a homo- ou heterocategorialidade do elemento
prefixal em causa, (iii) a manutenção/alteração, no produto, do género e do número da
base e (iv) a (in)ativação, no elemento prefixal, de sentidos distintos do do elemento
preposicional homólogo.
Deste modo, defendemos, com base na análise dos produtos derivacionais
prefixados com co-, contra-, entre-, inter-, so(b)-/sub-,sobre- e sem- que os elementos
prefixais que coincidem formalmente com preposições devem ser posicionados numa
escala, em função do seu grau de prefixização, a qual depende de um processo contínuo
de (des)gramaticalização e lexicalização (in)acabadas, o que se repercute na
classificação da prefixação como processo de formação de palavras de índole mais
derivacional ou mais composicional. Tese de doutoramento em Letras, na área de Línguas e Literaturas Modernas, na especialidade de Linguística Portuguesa, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Tese de Doutoramento financiada, com a referência SFRH/BD/43723/2008, pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) - Programa Operacional
Potencial Humano (POPH) - Tipologia 4.1 - Formação Avançada, comparticipado
pelo Fundo Social Europeu e por fundos nacionais do Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior.