Author(s):
Alexandre, Carlos
Date: 2010
Persistent ID: http://hdl.handle.net/10174/8718
Origin: Repositório Científico da Universidade de Évora
Description
Os mapas de solos são um dos produtos das Ciências do Solo com maior
interesse para a sociedade. Constituem uma síntese de conhecimento sobre os solos
específicos de uma dada área ou região e sobre o solo em geral, nomeadamente, através
da classificação adoptada na representação cartográfica. Contudo, a diversidade dos
solos e a maior ou menor complexidade dossistemas taxonómicos não facilitam a
interpretação destes mapas por parte de não especialistas. Os mapas interpretativos de
características particulares ou de índices agregados do terreno procuram dar uma
resposta mais directa às necessidades específicas dos utilizadores do solo. Tanto os
mapas pedológicos como os mapas interpretativos são, tradicionalmente, mapas
coropletos, que representam áreas contíguas com uma aparente homogeneidade
relativamente aos atributos representados. As metodologias clássicas de prospecção e de
caracterização do solo não permitiram, em Portugal e em muitos outros países, mais do
que uma razoável cobertura regional ou nacional de levantamentos semi-detalhados e de
reconhecimento (escalas < 1:25.000), sendo muito escassas as áreas com cartografia
detalhada e muito detalhada, por exemplo, à dimensão da exploração agrícola (escalas >
1:25.000). Este panorama pode vir a alterar-se com o desenvolvimento, nos últimos
anos, de tecnologias que permitem a elaboração de mapas de solos isopletos (ou de
isolinhas) com uma elevada resolução – definida pela dimensão que o pixel (ou célula
da malha adoptada) representa no terreno. Dado que a área mínima representada é
definida pelo pixel, os mapas digitais de solos (isopletos) são como uma versão HD
(high definition) por comparação com os mapas de solos clássicos (coropletos) à mesma
escala. Este tipo de mapas depende de tecnologias de recolha dedados numéricos que
têm evoluído a par e passo com os processadores e a informática em geral. Recorrem à
detecção remota, tal como a fotointerpretação nos métodos clássicos mas, agora,
utilizando métodos numéricos, plataformas físicas muito variadas (desde satélites a mini
aeronaves telecomandadas) e com muito maior abrangência do espectro de radiação
electromagnética (em resolução multi e hiperespectral). Estes avanços tecnológicos
proporcionam maior discriminação nos dados recolhidos sobre alguns factores de
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formação do solo (principalmente vegetação, relevo e litologia) e sobre o próprio solo,
pelo menos da sua camada superficial. As tecnologias de georreferenciação
(principalmente o GPS) desempenham um papel fulcral, permitindo o registo geográfico
preciso de todos dados recolhidos e permitindo até a realização de levantamentos
topográficos detalhados a baixo custo. A aplicação de tecnologias de detecção próxima,
em especial as baseadas nas propriedades electromagnéticas do solo (resistividade com
corrente contínua (DCR), indução electromagnética (EMI), radar (GPR) e outras) tem
revelado também um enorme potencial para a prospecção detalhada do solo. No âmbito
da agricultura de precisão, a comercialização de maquinaria capaz de elaborar mapas de
produtividade no momento da colheita, tornou possível a obtenção expedita de sínteses
cartográficas com informação de grande relevância, não só sobre as culturas mas,
indirectamente, também sobre o próprio solo. O desenvolvimento de métodos e de
aplicações informáticas para interpolação espacial (métodos geoestatísticos e outros),
em conjugação com a estatística multivariada, possibilitam um estudo mais abrangente
das relações entre os dados recolhidos e osparâmetros edáficos mais relevantes. Por
último, as bases de dados e os sistemas deinformação geográficos (SIG) constituem
ferramentas indispensáveis para a gestão do manancial de informação gerado e para a
sua representação cartográfica. Apresentam-se alguns exemplos das tecnologias
referidas aplicadas a solos agrícolas do Alentejo. O relevo ondulado predominante nesta
região contribui, só por si, para uma grande variabilidade espacial do solo em curtas
distâncias. Apesar disso, tal como em muitas outras regiões, a prática comum considera
as parcelas agrícolas como áreas uniformes. Os exemplos apresentados incidem no
estudo da variabilidade espacial do solo intra-parcela e nas suas implicações para o
manejo dos solos, recorrendo à caracterização morfológica e analítica do solo,
levantamentos topográficos por GPS e prospecção geoeléctrica por indução
electromagnética. A profusão de novas tecnologias capazes de gerar mapas de solos
isopletos cria novos desafios àsCiências do Solo. O mais imediato consiste na pesquisa
das relações entre os atributos cartografados (por exemplo, sinais detectados por
sensores) e as principais propriedades do solo(textura, humidade, salinidade, espessura
efectiva, contrastes na constituição dos horizontes, etc.). Por outro lado, em agricultura
de precisão, é questionável a o investimento em maquinaria sofisticada, com capacidade
para se adaptar à variabilidade espacial do solo, se não existir informação detalhada
sobre este recurso. Uma abordagem para ultrapassar esta limitação consiste na pesquisa
de correlações entre os atributos cartografados e a produtividade das culturas, ou outra
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variável de resposta do sistema em causa. Com este atalho procura-se a mesma
funcionalidade dos mapas interpretativos de solos, compensando a falta de uma
prospecção clássica de solos pela elevada densidade de amostragem que as novas
técnicas de detecção permitem. Neste contexto de novas metodologias de cartografia
(directa e indirecta) do solo verificam-se algumas alterações relativamente à abordagem
clássica, em especial na cartografia à dimensão da exploração agrícola e da paisagem:
(i) aumento da informação espacial de elevada resolução, expressa por parâmetros
quantitativos relacionados com propriedades do solo; (ii) diminuição da importância dos
métodos clássicos de levantamento e caracterização do solo; (iii) inversão da sequência
clássica da cartografia de solos – elaboração de mapas equivalentes aos mapas
interpretativos sem os correspondentes mapas pedológicos. Apesar da aparente
diminuição da importância da prospecção desolos, os mapas HD colocam ainda outros
desafios às Ciências do Solo: aproveitar a vantagem dos sistemas de detecção de
elevada resolução para desenvolver novas perspectivas de conhecimento do solo,
nomeadamente, melhorar a descrição, compreensão e previsão da sua variabilidade
espacial à dimensão da paisagem, integrar esse conhecimento em novos mapas
pedológicos e, também, na gestão de sistemas agrícolas, florestais ou ambientais,
possibilitando uma gestão mais adaptável aos condicionalismos da variabilidade
espacial do terreno.