Author(s):
Silva, Sara Andreia Monteiro da
Date: 2014
Origin: Repositório Comum
Subject(s): Pessoas idosas; Autonomia de decisão; Dilemas psicossociais; Instituição total; Integração social
Description
O aumento da esperança média de vida é, simultaneamente, uma das maiores
conquistas e um dos maiores desafios que se coloca à nossa sociedade. Se, por um
lado, os indivíduos vivem durante mais tempo, por outro, assegurar que este
“suplemento” de vida seja vivido com sentido e com dignidade constitui um exigente
desafio quer no quadro dos grupos primários, quer no das instituições especializadas
na prestação de serviços aos idosos.
No processo de transferência dos cuidados, outrora prestados pela família e
pela vizinhança, para instituições e profissionais especializados, o lar de idosos
afigura-se como a modalidade mais antiga. É também uma modalidade que comporta
um sério risco de enclausuramento e de despersonalização dos indivíduos. Sem negar
os investimentos político-institucionais realizados para afastar os lares de idosos dos
antigos asilos, a verdade é que algumas das características da “instituição total”, tal
como a definiu Goffman (1961), são ainda visíveis, nomeadamente a alienação em
relação à vida social, que continua fora do lar, e a exclusão das decisões que dizem
respeito à gestão da vida quotidiana, individual e coletiva.
Porque a realidade social é complexa e diversificada, o diagnóstico da situação
concreta em que o trabalhador social é chamado a intervir é, no nosso entender,
sempre necessário. Somente nesta base poderá conceber práticas com potencial para
alterar ou melhorar as instituições, designadamente no que respeita à reunião das
condições necessárias para que os idosos possam viver esta fase da sua vida com
sentido e dignidade.
É este trabalho de diagnóstico que é aqui privilegiado, numa perspetiva que
consiste em identificar não somente os obstáculos e constrangimentos que pesam
sobre o envelhecimento no contexto dos lares em observação, mas, igualmente, linhas
de intervenção possíveis para os superar. Depois de situar o lar no quadro do sistema
de gestão da velhice, procura-se analisar, a partir de informações recolhidas por
inquérito, a relação entre a institucionalização e o “Envolvimento Vital na Idade
Avançada”, tal como o concebe Erikson, Erikson e Kivnick (1986).
As informações recolhidas no quadro do inquérito “Estudo do perfil de
envelhecimento da população poveira” permitiram concluir que os lares de idosos em
causa ainda conservam características da “instituição total” (Goffman, 1961) e que os
seus modos de funcionamento correntes pouco contribuem para a prevenção de um
envelhecimento dominado pelo desespero. A reflexão diagnóstica conduziu-nos
igualmente a sugerir caminhos de mudança em duas direções fundamentais: a
construção de laços que garantam uma relação significativa com o mundo envolvente
e a salvaguarda da autonomia.