Description
Introdução: A obesidade central é um factor de risco independente para a ocorrência
de eventos cardiovasculares. No entanto, a incidência de obesidade central na
população portuguesa é desconhecida. Este estudo tem o objectivo de descrever a
incidência de obesidade central numa população urbana de adultos portugueses, por
sexo, idade e escolaridade.
Métodos: No âmbito do estudo de coorte EPIPorto, avaliaram-se prospectivamente
1515 adultos, residentes no Porto, seleccionados pela técnica de aleatorização de dígitos telefónicos. Os períodos de avaliação decorreram entre 1999-2003 e 2005-
2007. Foram considerados para o cálculo da incidência 1030 indivíduos, sem
obesidade central na primeira avaliação, com idades entre os 18 e os 86 anos, dos
quais 52,7% eram do sexo feminino. O tempo médio (desvio padrão) de seguimento
destes indivíduos foi de 4,3 (2,3) anos. Mediu-se o perímetro da cintura (PC) em
todos os participantes e a obesidade central foi definida como PC>88 cm e PC>102
cm, em mulheres e homens respectivamente. Para cada participante foi calculado o
tempo em risco: nos 817 indivíduos que se mantiveram sem obesidade central foi
considerado todo o tempo entre a 1ª e a 2ª avaliação; nos 213 indivíduos que
desenvolveram obesidade central o tempo até ao desenvolvimento da doença foi extrapolado através da variação proporcional do PC entre a 1ª e 2ª avaliações, assumindo que esta variação foi linear no tempo. As taxas de incidência (intervalo de confiança a 95%) são expressas por 100 pessoas-ano e foram modeladas por regressão de Poisson.
Resultados: Foram identificados 213 novos casos de obesidade central, dos quais 72,3%
são do sexo feminino. A taxa de incidência de obesidade central entre os adultos do Porto foi de 6,85 (5,85-8,03) nas mulheres e de 2,56 (1,98-3,31) nos homens, por 100 pessoas-ano. Independentemente da idade, escolaridade, actividade física de lazer e ingestão energética total, as mulheres apresentaram um risco superior de desenvolver obesidade central quando comparadas com os homens, RR=2,54 (1,82-3,55). Em ambos os sexos, a taxa de incidência foi superior nos indivíduos mais velhos, contudo após ajuste a associação não se manteve significativa. Em análise multivariada, encontrou-se uma associação inversa significativa entre a escolaridade (>11 vs <5 anos) e a incidência de obesidade central, RR=0,44 (0,28-0,70), apenas nas mulheres.
Conclusões: Nesta população, observou-se uma incidência de obesidade central de 6,85/100 pessoas-ano nas mulheres e de 2,56/100 pessoas-ano nos homens. As mulheres e em particular as menos escolarizadas constituem um grupo de risco para o desenvolvimento de obesidade central.